terça-feira, 21 de abril de 2009

Hospitalidade: ajudar o próximo


Por Firmino Gomes da Rocha


I

Hospitalidade é um bem maior. Refere-se às pessoas equilibradas e generosas, aquelas que não são egoístas nem individualistas, que acreditam que o sucesso da vida humana está mais para o sucesso coletivo do que para o individual. Refere-se àquelas pessoas que acreditam que a luta entre o capital e o trabalho é mais um desafio e não uma emulação competitiva entre o homem e o capital explorador.

II

O Brasil tem cerca de 200 milhões de pessoas, sendo mais de 50% de pessoas trabalhadoras e de boa índole, isto é, de um nível de hospitalidade admirável. Esse é um sentimento observado tanto nas casas quanto nas ruas; nas igrejas e nas repartições públicas e privadas; no setor de trabalho e de ensino.

Vale a pena observar essa relação entre as famílias, e entre a juventude e as pessoas idosas – é sempre uma lição de vida! Observa-se também nas reuniões, como esta nossa: quando uma pessoa vai falar (não importa se é rica ou pobre; branca, amarela, parda ou negra) é sempre com respeito que se ouve, pois este é o sistema coletivo do pensamento humano em nosso tempo.

O nosso povo é assim. Esteja onde estiver, o brasileiro é reconhecido pelo seu jeito alegre e descontraído, hospitaleiro e de bom humor – e isso é de tirar o chapéu!

III

A hospitalidade tem um forte referencial nas pessoas famosas e mundialmente conhecidas. Entre elas estão a irmã Dulce (Bahia), madre Tereza de Calcutá (Índia), Eva Perón – a deusa da beleza e da bondade na Argentina – e Joana d’Arc, que preferiu a fogueira ardente à traição de seu povo (França)

No Brasil temos Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife; Dom Paulo Evaristo, o cardeal Arns (São Paulo); Frei Leonardo Boff, que foi perseguido pela Igreja e pelo poder militar por ter escrito e divulgado a teoria da libertação. No mundo temos Mahatma Gandhi (Índia), Martin Luther King, líder pacifista (Estados Unidos), e tantos e muitos outros do século XX...

Mas já na Idade Antiga tínhamos Moises e Araão, travando batalhas pela libertação dos escravos e seus trabalhos forçados. O princípio da hospitalidade e espiritualidade do mundo antigo também marcou estórias e lendas que hoje são vistas, com carinho, como didáticas nas civilizações, destacando e marcando caminhos que muita gente vem trilhando através da Bíblia, por milhares de anos. Um caso específico e divulgado foi, sem dúvida, o de José do Egito, filho de Jacob e Raquel, que tiveram mais onze filhos. José era o caçula, mas foi ele que ajudou o povo do Egito a sair da fome: sabendo que o país iria passar fome e doenças, construiu grandes armazéns onde guardou provisões que alimentaram seu povo por 7 anos – período de seca que assolou o continente, principalmente a região de Canaã (sua terra Natal). José foi um homem justo e hospitaleiro: um gênio salvador de um povo.

IV

Hospitaleiro é também um pai que nunca desiste de ajudar e lutar pela felicidade de seu filho, e por ele é capaz de sacrificar a própria vida se assim for preciso. Este é o pai herói. Assim – por que não? – lembremos de Zumbi, o nosso herói lendário, nascido em Alagoas, líder dos escravos em Palmares, morreu lutando contra um exercito de jagunços comandados por Domingo Jorge Velho, um verdadeiro tirano, inimigo número um de todos os negros escravos.

Outro herói de grande envergadura foi Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes. Mineiro de Ouro Preto, também foi morto numa luta pela libertação, contra as forças portuguesas – seu corpo foi esquartejado e pendurado no alto dos postes das ruas da cidade. Enfim, muitos foram os homens mortos pelo Brasil a fora. Entre eles lembro de meu cunhado, o líder camponês José Honorato Lemos, um jovem de 32 anos, casado e pai de dois filhos: ele foi covardemente assassinado pela polícia de Presidente Prudente (São Paulo), a mando de um juiz a serviço dos latifundiários locais... Segundo os jornais, o camponês foi morto quando prestava socorro a dezenas de famílias que estavam com os filhos famintos, doentes e semi-nus, acampados na beira das estradas da região que liga a cidade de Presidente Prudente à Ameliópolis.

V

Há também o herói anônimo, desconhecido e meio invisível. Ele prefere o anonimato, mas está em toda parte, sempre na expectativa, ou seja, pronto a praticar o bem. Inesperadamente, não importa onde, ele aparece, sempre na hora exata – em casa ou na rua; na estrada, no mar ou no ar – onde estiver uma pessoa ou um grupo de pessoas em risco de vida, lá estará ele, sempre salvando-as! Usando uma força desconhecida, e tão rápido quanto um raio de luz, ele se joga ao abismo de corpo e alma, mesmo que para isso exponha sua vida ao limite. Vive atento, pois a qualquer momento poderá estar salvando vidas de pessoas das rodas de um carro, de um incêndio, de um afogamento, etc. Quando o inesperado acontece, ele, o herói anônimo, não espera pelo salva-vidas ou pelo bombeiro. Outro dia eu vi na TV que, em um bairro da periferia de BH, um jovem que passeava pelas ruas ouviu uma criança gritando no fundo de um poço. O moço rapidamente arranjou umas cordas e, sozinho, foi descendo até o fundo do poço e salvou a criança! Sem ter tempo de chamar ajuda especializada, esse é o herói anônimo: aquele que salva e não precisa saber a quem.

VI

Por fim, há também o lendário super-herói. O herói que, segundo a lenda, salva o bem contra o mal. Ele é capaz de sair voando pelo espaço ou ir rasgando o centro da terra ou o fundo do mar. Ele pode ainda se tornar invisível, teleguiar o corpo pela mente, a fim de salvar alguém. O super-herói estará sempre atento, em algum lugar do mundo, e pode ser visto quando está a salvar uma pessoa (não importa quem seja), sem visar lucros ou recompensa. É um lendário: não quer e nem aceita que se faça culto a sua personalidade, procurando ser um homem comum. O super-herói é um mito do hospitaleiro.

3 comentários:

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  2. Seo Firmino, adorei esse texto. Ele é autêntico e com sua marca registrada: generosidade!
    Se, em minha vida, eu puder ter uma ínfima parte da compreensão do mundo que o senhor tem, darei-me por pronto.
    Abraço.
    Ronaldo, teu fã!

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  3. Existe algumas coisas na vida, que derivam da compreensão do tempo e do entendimento do vasto material humano, que se faz presente ao longo de nossa existência.
    A derivação disso; MATURIDADE e SABEDORIA, não há instituição ou organização que fabrique esta valiosa jóia.
    MATURIDADE e SABEDORIA, provém da vivência e da gana de estar aberto a todas as oportunidades que a vida nos entregam.
    Ao ler esta dissertação sobre a Temática "Hospitalidade", acrescento que ser hospitaleiro, é ser Firmino, poder compartilhar a sabedoria que a vida nos ensinou.
    A Turma do Firmino só tende a crescer, com a presença de uma figura ímpar e com uma percepção tão artística e sensível sobre o aprender a VIVER!
    Parabéns pelo texto e espero por mais outros tantos!!!
    De um tão novo membro e admirador da Turma do Firmino;
    Tiago Melo

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